Democracia em Vertigem
Petra Costa; 2019
Documentário político e memórias pessoais se misturam nesta análise sobre a ascensão e queda de Lula e Dilma Rousseff e a polarização da nação.
Democracia em vertigem teve sua primeira exibição mundial em 24 de janeiro de 2019, no MoMA, durante o Festival de Sundance, quando foi apresentado pelo cineasta Spike Lee que na ocasião proferiu: “Esse filme nos dá um outro olhar sobre a escalada do fascismo. Não é só aqui, é global.". A Netflix adquiriu os direitos de distribuição do filme, que foi lançado comercialmente na plataforma de streaming em 19 de junho de 2019 junto com projeções em cinemas de Nova York e Los Angeles. Ao longo do ano de 2019, foi o segundo documentário mais visto da plataforma no Brasil. O filme acabou por inspirar um debate que há muito tempo tenta ser superado referente a dicotomia ficção e realidade no cinema de documentário. Com a indicação ao Oscar 2020 na categoria de Melhor Documentário os debates em torno da verdade no documentário tomaram os discursos de políticos do país. Pelo Twitter o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) classificou o filme como “melhor filme de ficção e fantasia”. Abordado na saída do Palácio Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro chegou a apontar a obra como “ficção” e “porcaria”: “Ah, não, pera. Ficção… para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme”. Ainda questionado pela imprensa se teria assistido ao documentário, Bolsonaro negou. “Eu vou perder tempo com uma porcaria dessas?”. O ex-presidente Michel Temer, disse para a Folha de S. Paulo que "as imagens são reais, [o documentário é] muito bem fotografado, muito bem produzido, entretanto, há uma postura político-partidária e pessoal que retira a credibilidade do filme". Na conta do Twitter do ex-presidente Lula a seguinte publicação foi divulgada: “Parabéns, Petra Costa, pela seriedade com que narrou esse importante período de nossa história. Viva o cinema nacional! A verdade vencerá”. A ex-presidenta Dilma Rousseff, em comunicado publicado em seu site oficial, comemorou a indicação de Democracia em Vertigem ao Oscar:
“A verdade não está enterrada.
A história do golpe de 2016, que me tirou da Presidência da República por meio de um impeachment fraudulento, ganha o mundo pelas lentes de Petra Costa no documentário "Democracia em Vertigem". E, para surpresa de alguns, ganhou hoje indicação ao Oscar.
O filme é corajoso, por mostrar o jogo sujo que resultou no meu afastamento do poder e como a mídia venal, a elite política e econômica brasileira atentaram contra a democracia no país, resultando na ascensão de um candidato da extrema direita em 2018.
Parabéns a Petra e à equipe do filme pela indicação ao Oscar. A verdade não está enterrada. A história segue implacável contra os golpistas.”
Data de lançamento
19 de junho de 2019
Duração
2h1min
Gênero
Documentário
Direção
Petra Costa
Roteiro
Petra Costa, Carol Pires, David Barker e Moara Passoni
Produtoras
Busca Vida Filmes
Distribuição
Netflix
Elenco
Dilma Rousseff; Luiz Inácio Lula da Silva; Marisa Letícia Lula da Silva; Sergio Moro; Nestor Cerveró; Paulo Roberto Costa; Marcelo Odebrecht; Lindbergh Farias; Jovair Arantes; José Eduardo Cardozo; Eduardo Cunha; Carlos Henrique Gaguim; Paulo Maluf; Roberto Requião; Jean Wyllys; Rodrigo Rollemberg; Jair Bolsonaro; Aécio Neves; Gilberto Carvalho; Romero Jucá; Sergio Machado; Renan Calheiros; Deltan Dallagnol; Geoffrey Robertson; Michel Temer; Joesley Batista.
O longa foi lançado na plataforma de streaming Netflix. Nos Estados Unidos, o filme também foi exibido em salas de cinema.
CPH:DOX; Sheffield International Documentary Festival; Sundance Film Festival; Oscar.
Mídia
PRODUÇÃO
Politicidades estéticas no documentário brasileiro
a imagem pública de um processo em vertigem
Sandra Fischer
Universidade Tuiuti do Paraná
Aline Vaz
Universidade Tuiuti do Paraná
O estudo enfoca os filmes brasileiros O processo (Maria Augusta Ramos, 2018) e Democracia em vertigem (Petra Costa, 2019), analisando como as respectivas estratégias cinematográficas adotadas constroem formas e modos de dar a ver a imagem pública da política brasileira. Em O processo, no enquadramento de imagens que parecem falar por si mesmas, não obstante os efeitos de presença da câmera-testemunha, há um país que se desvela; em Democracia em vertigem, por sua vez, o excesso de imagens editadas por Costa ressignifica temporalidades e espaços, sugerindo que a câmera está ali para organizar um compilado de fatos que reapresenta um discurso histórico-midiático. Cada qual a seu modo, ambos os filmes estabelecem peculiarmente propícios a estranhamentos que podem contribuir com a necessária revisão crítica a respeito do que se passa no teatro político do Brasil contemporâneo.